segunda-feira, 8 de junho de 2020

VIAGEM NO TEMPO

(Créditos para Salvador Dali por essa magnífica pintura. Belíssima!)

O tempo é algo que sempre me intrigou. O diálogo com o tempo e a coragem de defrontar-se com ele vive a me instigar quando me confronto com as etapas da vida, infância, juventude e velhice. Hoje visitei os tios de minha esposa. Sou um observador das idades! 

Enfim, a vida não se cansa de multiplicar e apresentar possibilidades. Que vivam os jovens e os velhos e todos possam trocar suas experiências. Quanto a mim, sinto-me eternamente no meio de dois gigantes: o passado, que até há pouco era um segundo; e o futuro, o engolidor de agora e do que passou!

Mas sempre fica a recordação de uma vida que viaja no tempo, admirando-o e repeitando-o na sua imensa majestade.



Nessa estrada em que trago a vida

Eu me perco e nem sei quem sou

Sugo o tempo numa bebida

Venço o passo que me alcançou


Vidas muitas que me assolaram

Moças pardas, loiras e pretas.

Laços ternos que me assomaram

Tristes mares, coisas secretas.


Risos lânguidos, dissabores.

Festas pálidas, tempo largo

Flores, pétalas: tantas cores


Nos sorrisos que imprimem o cargo

Em licores toscos amores

Que viagem de um gosto amargo!

PORTO SALGADO


Era Porto Salgado

Hoje nem porto, nem sal

Era caranguejo que se vendia

E lanchas que aportavam

Vindas do delta, dos igarapés


Tinha uma águia lá em cima

Eu era criança e me lembro

Ir à Ilha Grande só de balsa

Era o famoso batelão, como se dizia

Quando se queria ir pros morros


Mas não sem antes avistar

Os cata-ventos - diferentes ventos:

Ou quem sabe pro "céu" se iria

Pros tatus, ou labino, quem sabe?

Eram cajus doces imperdíveis!


Antes da ponte de Simplício Dias

Aquilo lá era um mistério!

Hoje não se tem mais mistério,

É só subir que já se está

Na vazantinha a perambular.


Naqueles tempos

De calções e camisetas abertas

Ao sair do "Miranda Osório"

E passar pela "Merenda do Índio"

Um ligeiro persignar na "Praça da Graça"

Pra deliciar aquele momento

Que embora perdido no tempo

Continua avesso à monotonia,

Atesto de uma alquimia

De emoções e saudades

Do pequeno sonhador

À beira do Porto Salgado