quinta-feira, 11 de junho de 2020

SOBRE HEIDEGGER, O FILÓSOFO


Martin Heidegger, após o doutorado, tornou-se professor universitário de filosofia (Universidades de Marburgo e Freiburg), cujo labor rendeu-lhe, também, o ofício de escritor.

Nascido em 26 de setembro de 1889 na cidade de Messekirch e falecido em 16 de maio de 1976 em Friburgo, região da Floresta Negra, na Alemanha, viveu de forma intensa e profícua seus anos de vida, dedicados quase que exclusivamente à vida intelectual, marcadamente submissa às condições históricas de seu tempo e lugar.

A vida do filósofo, a deduzir pelo rigor de suas obras, poderia ensejar a uma possível monotonia, quando, pelo contrário, mostra-se recheada de fatos curiosos, dentre os quais destacamos alguns.

Conforme Giacóia Jr. (2013, p. 15), Heidegger teve rigorosa formação religiosa junto à Companhia de Jesus (Jesuítas) onde iniciou seus estudos, chegando a graduar-se, pela Universidade de Friburgo, em teologia e filosofia, em preparação ao sacerdócio, mas que, no entanto, em virtude de problemas relacionados à saúde, desligou-se desse intento para se dedicar integralmente à filosofia e à vida acadêmica.

Um fato, por dizer, inusitado e que, à primeira vista, possa ser interpretado como absurdo, mas que consta da biografia do filósofo, é que ele esteve vinculado, por algum tempo, ao partido nazista de Hitler, tendo inclusive sido nomeado como reitor da Universidade de Friburgo, mas que, em decorrência de uma possível pressão da comunidade acadêmica, ele teria, pouco tempo depois, se demitido do cargo, conforme descrito pelo professor Oswaldo Giacóia Jr.:

O envolvimento político de Heidegger se reflete no discurso da reitoria, proferido na solenidade de sua posse. Nele, o filósofo coloca em estreita relação a missão da universidade, da ciência e da cultura e o destino político e histórico do povo alemão. Em abril de 1934, Heidegger demitiu-se do cargo de reitor, em virtude de desentendimentos com colegas acadêmicos e divergências com as autoridades governamentais. Já nessa época, nota-se em seus escritos o afastamento crítico do nazismo, como em ‘Superação da metafísica’, coletânea de textos redigidos entre 1934 e 1946. (GIACÓIA JR., 2013, p. 17)

Outros fatos há na vida desse intrigante filósofo, não menos curiosos, mas, desta feita, entendidos como positivos. Um deles é que ele foi aluno e recebeu bastante influência de Edmund Husserl, filósofo criador da fenomenologia, tendo, inclusive, homenageado o mestre com uma dedicatória: “em testemunho de admiração e amizade” (HEIDEGGER, 2012, p. 5).

Entretanto, quando o homenageado teve contato com a obra Ser e Tempo ele teria afirmado que o autor daquela obra teve uma má compreensão do que tratava a fenomenologia, como assinala Cerbone: “Na perspectiva de Husserl, Heidegger tinha abandonado inteiramente as aspirações fenomenológicas de levantar e responder questões transcendentais para se tornar uma ‘ciência rigorosa” (CERBONE, 2013, P. 66)

O outro fato curioso na vida de Heidegger é que ele teve como sua aluna a renomada escritora e também filósofa judia Hannah Arendt, o que, de certo modo, mitiga, um pouco, os desvarios com o partido nazista alemão.

Tais curiosidades acerca do filósofo servem para nos remeter ao contexto de sua experiência de vida e formação intelectual, cujo constructo teórico, criticamente avaliados, revelaram apenas aspectos positivos, não tendo sido demonstrado nenhuma influência maléfica no trabalho intelectual que desenvolveu, tendo sido, de acordo com Rüdiger Safranski o autor cuja obra teve o maior número de análises e interpretações publicadas neste século” (SAFRANSKI, 2000, p.507).

Heidegger também foi intelectualmente influenciado por outros importantes pensadores como Kant, Dilthey, Nietzsche e Kierkegaard, dentre outros, revelando que essas fontes contribuíram para inspirar sua produção acadêmica e torná-lo um grande e original pensador.


Referências:

 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5ª Ed.-São Paulo: Martins Fontes, 2007.

 CERBONE, David R. Fenomenologia. Tradução de Caesar Souza. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006  

 GIACOIA JR., Oswaldo. Heidegger Urgente: Introdução a um novo pensar. São Paulo: Três Estrelas, 2013.

HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. 7ª Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

 SAFRANSKI, Rüdiger. HEIDEGGER: Um mestre da Alemanha entre o bem e o mal. São Paulo: Geração Editorial, 2000. 

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