quinta-feira, 11 de junho de 2020

SOBRE O AUTOCONHECIMENTO


O ser humano é o ser que por essência busca conhecer. O objeto, a ser conhecido, deve antes ser indagado e espraia-se desde o macrocosmo (o infinitamente grande) até o microcosmo (o infinitamente pequeno), encontrando-se, entre esse vasto campo do conhecimento, justamente esse ávido indagador, que é o ser humano (o infinitamente complexo).

As ciências e outros saberes da cultura, como a arte, a religião, o exoterismo, e o senso comum se esforçam em apresentar as respostas em todos os ramos do conhecimento, mas é, por excelência, na filosofia, que as perguntas são elaboradas. 

De certo modo, lato sensu, em face do seu aparelho sensorial, todo ser humano torna-se filósofo ao se por na condição de espanto e admiração diante do ser, visto que é impossível ver, cheirar, ouvir, tocar, saborear sem perguntar “o que é?” e o “por quê?”. 

Logo, pode-se dizer: o conhecimento é fruto da indagação que advém do espanto e admiração, em face dos recursos sensoriais.

E as indagações não cessam, pois são infinitas e insistentes, visto que é próprio do ser humano a insaciabilidade intelectual. O ser humano é um exímio produtor e consumidor de conhecimento, o que pode ser ilustrado pela imagem de um ser que, diuturna e incansavelmente, reluta em cutucar a abóbada do templo do conhecimento, na esperança de encontrar ranhuras e frestas, em busca de algo novo, uma nova luz que possa clarear e possibilitar soluções sobre os mais diversos problemas.

Dentre tantos problemas que esperam ser solucionados, entre os quais, se destacam também aqueles internos, que remetem à própria identidade, à origem e o porquê do ser e existir, na busca dos caminhos percorridos e os a percorrer, como também aqueles que remetem à busca do sentido da finitude ou da morte.

O autoconhecimento é uma palavra que se explica por si só, no entanto o processo de autoconhecer-se exige uma reflexão um tanto quanto profunda.

O filósofo alemão Heidegger, em sua filosofia existencialista, buscou compreender o sentido da vida e do ser a partir do ser humano, cuja essência é existir, no sentido da aptidão impreterível e necessária para sair de si e projetar-se, não no sentido espacial, mas no sentido temporal e psicológico, cujo instante seguinte tanto será aquele indubitavelmente propício para a realização do ser, fulcro da esperança, quanto essa decisão existencial de sair-se for autêntica, na estrita conceituação heideggeriana.

Segundo os dicionaristas Houaiss e Villar, autoconhecimento é o “conhecimento de si mesmo, das próprias características, sentimentos, inclinações etc.” (HOUAISS e VILLAR, 2001, p. 349).

Para Heidegger, no entanto, o autoconhecimento significa e implica em muito mais do que a simples semiótica gráfica. É possível extrair de sua filosofia, ainda que este não tenha sido o foco do filósofo, que o autoconhecimento implica em se colocar, de forma autêntica, na busca do sentido do ser, não apenas do ser das coisas, ou do ser dos outros, mas, sobretudo em busca do ser de si mesmo, posto que ele foi lançado ao mundo (Presença/Dasein/Ser-aí/Ser-no-mundo) e não tem receita alguma acerca de como é ou de como será essa interação, mas que, para verdadeiramente ser, ele deve se arriscar, se projetar, construindo suas próprias razões, seu modo de ser, pois, sem isso, não existirá, de fato.

Referências:

 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5ª Ed.-São Paulo: Martins Fontes, 2007.

HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. 7ª Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.


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